sábado, 19 de junho de 2010

Tete

Província de Tete. Onde os pés e os ombros começaram a ficar doridos…

A paisagem é um encanto. Seca e poeirenta, de rios de areia entre ela, com montanhas que separam Moçambique do Zimbawe a oeste, e mais a norte as montanhas por onde serpenteia o Zambeze, interrompido por Cahora Bassa.
Diz a lenda que o embomdeiro era a árvore maior criada por deus. Por isso mesmo passava noite e dia a vangloriar-se da sua sorte e da pequenez dodas as outras árvores. Deus, quando soube da sua vaidade, enfureceu. Agarrou no embondeiro e virou-o de cabeça para baixo. Daí, hoje, estarem as suas raízes ao vento.

A cidade é uma cidade cara, onde pessoal de todo o mundo corre à procura do ouro negro daqui, o carvão. A vida é intensa na cidade, e de todas as cores. Encontrámos quem nos arranjasse o telemóvel, bebemos uma bica portuguesa, conhecemos o bacano do Sam que nos deixou ficar em casa dele uma noite e partimos para Songo, para a albufeira. Revistados numa vez num ponto de controle, quase uma outra na esquadra onde pedimos informações e uma outra quase terceira vez que não aconteceu porque não estávamos com as mochilas, mas que nos chatearam até à morte e nos queriam fazer sentar. Coitados, estavam aborrecidos. Raio de polícia em tete, a pior de Moçambique.

Ficámos no Ugezi Tiger Lodge. Á barragem só se podia ir com uma semana de marcação mas sem mal, porque o rio impressona mais do que aquilo que o tenta deter. As montanhas estavam de todas as cores (bem sei que deveria ser normal, visto ser outono aqui, mas já ouvi que aqui as cores encarniçadas são na primavera, nos novos rebentos antes de passarem para verde), embondeiros por ali acima, uma espécie de plátano, mas de tronco branco e folhas amarelas, de cenário… Esquilos, passarinhos e passarinhos, e já umas quantas palhotas de gente que se tinha estabelecido ali, mas pouca. Com este chegámos a um terceiro ponto-chave do rio Zambeze. Já tínhamos estado nas Victoria Falls, depois no enorme delta e agora na barragem de Cahora Bassa.

O Lodge saiu-nos caro afinal. Estava mal-gerido, era caro e mal servido. Mas bonito, bem bonito, enfiadas nas pedras as casinhas que se alugavam no pequeno caminho que ía dar à albufeira. Na zona dos barcos vimos varanos pequenos e crocodilos de 30 cms a apanhar banhos de sol.
Mas voltámos para Tete. A parte económica começa a ter que ser repensada. Estamos cansados e não tínhamos tido muitas sortes. Mas por sorte, ou necessidade, ou destino, vimos um senhor na rua a vender plantinhas e plantecas, com frascos com todo o tipo de coisas e cores lá dentro, picos de porco-espinho, e outras coisas meio inomináveis. Sempre curiosos. Acabámos por comprar (e não foi impingido, o senhor estava tão ou mais curioso com a nossa curiosidade do que ela mesma) uns ramos secos, “morre vive” ou “morte vida” ou assim – mas em dialecto – que se punham em água, para lavar a cara no dia a seguir (conforme a gravidade do problema podia tomar-se banho), já que cheiravam bem e abriam na água nessa noite, não parecendo estar mortas afinal, mas bem vivas, só secas. Pois demorámos pôr a planta de molho, e todos os dias nos arrependíamos, a sorte ía de mal a pior, umas discussões, umas indecisões… Mas finalmente lá pusémos. Estávamos em Massinga, já meio precipitados a sair do Malawi (só conhecemos a cidade de Blantyre, a sul) onde entretanto tínhamos ido com intuíto de conhecer mas especialmente para ter outro visto. E não é que até foi engraçada a sorte que a plantinha nos deu? Seja mito, o que é que interessa?

Porque neste momento estamos em casa da Sara e do João, dois tugas, boa gente do melhor, que conhecemos aqui em Nampula
(onde chegámos depois de um dia das 5 da manhã às 9 da noite em transportes, num camião com sacas e galinhas e muita gente, eu quase a cair, o Zé a olhar para a sua mochila cheia de caca de galinhas assustadas; mas depois numa santa boleia, de carro, à larga…)
Mas estamos agora em Nampula, conhecemos este pessoal que nos convidou a jantar e depois a ficar. Escrevo duma varanda no calor do inverno, onde oiço o Zahir (com um ano) que estava contente a agarrar uma largatixa de rabo azul, música de jambés – e espero pelo Zé, que foi comprar com o João umas madeiras para o balcão da papelaria que se vai construir, mas que entretanto ficaram na conversa com mais um polícia aborrecido. Lol.

E saudades. Talvez o nosso regresso se avizinhe, já temos umas quantas ideias para desenvolver aí… ***

1 comentário:

Sofia Pinto Coelho disse...

que pena, nao consegui ler por causa da letra e do fundo :(