quarta-feira, 19 de maio de 2010

Manica - arte e ouro

Manica, Manica!! Gostámos tanto!

O plano era Tete, mas com tantos dias de visto não valia a pena ir a correr. Fomos antes para Manica, para tentar ver as pinturas rupestres de Chinhamapere.
Ficámos no complexo Edgar, que era simpático, limpo e baratinho mas que tinha um senão. Música, aos gritos, de manhã à noite, com a madrugada pelo meio. Pior que a música era o Dvd, sempre sempre o mesmo, aos altos berros, do “Show de Talentos”. E lá vinha o "Castiiigo Muchanga", contar as suas piadas. Horas a fio.

Mas tirando isso adorámos. Manica é nas montanhas da nascente Vumba, a água que se vende aqui. Íamos à fonte, tal como o pessoal daqui, buscar a água engarrafada de graça. Entenda-se. É a mesma, a garrafa é que era nossa. E passeios nas montanhas. Mais estreias de pássaros.

Depois fomos às pinturas, ou à procura delas. Como bons preguiçosos e pouco espertos que somos conseguimos sempre acordar tarde e fazer as caminhadas no pico do calor. Lá descobrimos a Dona Verónica, ao pé do Liceu de Chinhamapere, que nos ía levar ao monte. Importa dizer que levámos um bigode da senhora de 70 anos a subir por ali acima. Era uma verdadeira cabrita do mato. Na subida não podíamos “fotar”, mas depois de oferecido dinheiro e rezas aos antepassados já podíamos tirar quantas fotografias quisessemos. Ela, especialmente, adorava ser fotografada. As pinturas são de aproximadamente 25 000 anos antes de Cristo. Seriam uma parede inteira. Resta um pedaço, que devido à inclinação da rocha não apanha chuva nem escorrências dela. Um parte foi estranhamente apagada por pessoas (isto foi o que conseguimos entender, a senhora Verónica falava pelos cotovelos mas sempre em dialecto, não percebíamos um cú) que cuspiam água nas pinturas. Assim que são os guerreiros do topo que melhor se vêem e se encontram lindamente preservados.

Soubemos, quando estávamos a ver o jogo do Benfas (saudades Tugolândia!) que havia ouro nas bases das montanhas da zona. Ficámos mais um dia para ir ver os garimpeiros a lavar quilos de argila no rio à procura das pequenas partículas, bem pesadas e brilhantes, que alimentavam centenas, tanto moçambicanos como emigrantes de toda a África. Depois de escavar uma mina (de 10, 12, 14 metros) no chão, leva-se a terra dela tirada até ao rio. Ali, outros, lavam, lavam, lavam, com um filtro por baixo dum tabuleiro de ferro e com esperança no que a sorte lhes possa reservar para esse dia. Depois há crianças. E mulheres que cozinham para aquela gente toda – são centenas e centenas de pessoas numa terra argilosa, uma pequena cidade ali; e pessoal com balanças e maços de notas a comprar migalhas brilhantes.
A cidade pára quando chegam ali turistas. Gente branca, que não quer comprar. Só quer ver? Encantados com as fotografias, a fazer poses, a dar gargalhadas. Vida tão dura, gente tão boa.
A seguir lá partimos para Tete. Mais uma boleia de camião, na estrada mais bonita que fizemos neste país. Estamos agora no Far Far West, terra dos embondeiros, terra do pó. Essas notícias e fotografias já ficarão para uma próxima.

2 comentários:

Unknown disse...

Continuam a fazer inveja meus meninos, a desbravar caminhos e conhecer novas vidas, a renovarem-se tb.Mal consigo imaginar o que podem tar a sentir. mas gosto mt.continuem estrada fora e que as estrelas brilhem sempre no vosso caminho. beijocas anita e careca

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.