terça-feira, 18 de maio de 2010

A despedida do Zimbabwe

Ui, mais um mês sem notícias... Começa a ser recorrente. Mas a desculpa desta vez justifica, é que um navio, ali para os lados de Vilankulo, destruiu o cabo de fibra óptica que traz o poder da comunicação a Moçambique... Assim que de lá para cima, a situação está má, sem prazos para voltar ao normal (uns três meses dizem eles, uns quantos mais, entenda-se...).

Falta falar melhor do Zimbabwe e do Idir, que tao bem nos acolheram... Tirámos a barriga de misérias de noitadas, bifes e chocolates... Até de hotéis bons, de mais, sem pagar... (eheheh, vá se lá entender estas sortes...) Mas Harare é uma cidade bem estranha, na verdade. Os povos estao bem divididos, vivem bem separados, numa tranquilidade aparente... Nós queremos África, queremos a música, as gargalhadas, os mitos e os hábitos. De Europa sabemos nós, e esta, a que há por cá, rica e presunçosa, das ONGs, não apetece... O que mais gostámos foi do artesanato, que comprámos algum, que vocês talvez achem piada, ja que levaremos umas quantas peças que talvez vos possam interessar =)

De reter na ideia os animais e a vida selvagem neste país! Desde a grande crise o turismo do Zimbabwe teve uma queda de 95%. Uma pena. As infraestruturas sao impecáveis (em muitas situações ultrapassam a qualidade portuguesa – europeia), nem que sejam pelo calor com que somos recebidos em todas as situaçoes. No parque do Mbizi, a 40 kms de Harare, podem-se ver girafas, passarada com fartura, impalas de todos os géneros e zebras desvairadas a fugirem do Idir, que insiste em correr atrás delas... =) Canoagem, safaris, à escolha. O Zimbabwe oferece uma qualidade de vida impressionante.

Mas deixem-me contar-vos do meu dia de anos!! Foi a primeira vez que o telefone não soou logo à meia noite... Foi a primeira vez que não estive rodeada dos meus amigos queridos queridos (e tive saudades...) a beber uns copos e a comer um bitoque numa tasca qualquer no coração de Lisboa (ou Tomar). Estava a passar a meia noite numa Pickup, a caminho das Victoria Falls, perto do Parque Nacional do Hwange, tao perto, que nos passou à frente uma hiena a correr! A caminho do lodge onde passaríamos a noite, no meio do mato nos limites do tal parque, também vimos um chacal. E finalmente lá chegámos. Era o Sikani ou assim Tree lodge. Casinhas nas árvores. Por causa dos leões. Demais!
A vista destas casinhas em vez de ser para um lago ou uma praia, ou uma montanha era para uma clareira da savana com alguma água, para atrair os animais. E de manhã lá estavam. Babuínos, impalas, grous lindos, gansos enormes, patos... Logo a seguir fomos fazer um safari, livre! Como não estávamos dentro do parque a circulação podia ser com os nossos próprios carros e valeu bem a pena. Este Zimbabwe cheio de animais nem precisa de os proteger num parque natural. Girafas, elefantes, chacais, raposas, passarada impressionante (grous, secretary birds, rolieiros, etc, etc)... Eu toda a contente, pendurada na parte de trás do carro a curtir bem o solinho – lá era bem mais fresco. Ainda bebemos uma cerveja, antes de partirmos para chegar às cascatas onde o pessoal já tinha todo chegado, num logde tambem com vista para a savana, ainda mais espectacular. Imaginem só. Tranquilos, barulho de passarada, piscina, e à vossa frente um elefante e a beber água e gazelas a correr e a brincar. Esperar para ver a passarada que vem ao lago, e também pode ser que apareça uma chita, um leão, coisas assim...

Mas tínhamos que ir, tavam à nossa espera. O destino era o Ilala Lodge, quatro estrelas. Buf!! Mas eram os meus anos, e demo-nos ao luxo. Ficámos num quarto “barato”, bem negociado pelo Idir (mas lindo, de sonho) e partilhámos com ele o que o tornou mais pagável. Tinha vista para a cascata e avisava na janela a urgência de trancar as portas e tirar a chave da porta que os babuínos entravam para roubar comida. Da varanda vimos um Waterbuck, um veado imenso, com riscas e cornos lindos. Assim, ali, na relva... Belo jantar nessa noite (eu e o Zé mal comemos, já bastava o que bastava, lol – até chegámos a desaparecer uma vez para ir comer uma sadza (o mesmo que a xima – de farinha) a um restaurantezinho dos trabalhadores, onde pagámos um dólar por uma refeição para os dois...) e depois veio um pratinho a dizer amorosamente Happy birthday Caitana! =) Tudo a cantar! E depois fiesta num backpackers. Bem completo!!

Depois do conforto daquela cama deliciosa lá fomos ver as cascatas. Indescritível. Deixo as fotografias só para vos dar uma ideia. Nem vimos tanto assim, era mais sentido, porque com a quantidade de água do rio Zambeze a nuvem era densa demais e chovia a potes nos sítios onde mais nos podíamos aproximar. Poderoso! Enquanto isto o pessoal tinha ido dar um passeio de elefante, que se fartaram de curtir. Lá para o fim da manhã encontramo-nos todos na ponte que separa o Zimbabwe da Zâmbia para uma sessão de Bungee Jumping em que o Idir e o Ahmad íam saltar. Eu até já me tinha passado pela cabeça alguma vez na vida experimentar aquilo. Mas depois de ver e ter noção, não me parece... Aquilo é alto meesmo. É contra natura uma pessoa mandar-se dali a baixo por sua própria vontade! E tem que ser de cabeça, porque o Ahmad mandou-se mal (vê-se na fotografia) e partiu um osso da mão. Foi de pés, a corda rodopiou-se toda e ele no meio da confusão agarrou a corda quando estava a subir... Buf. Saiu de lá branco e cheio de dores. Eu cá aconselho: bebam um copito ou dois, como fez o Idir, e vão sem medo, mesmo numa de curtir. Porque o medo se toma conta a coisa corre mal. Mas depois jantámos gazela, e o Idir tocou e cantou uma música marroquina no palco do Mama África.

O pior foi voltar. Interminável dia de viagem, eram uns 1000 kms. Eu guiei um bocadinho, pela primeira vez no lado esquerdo da estrada. E preparámo-nos para regressar a Moçambique. A mãe vinha para visitar e conhecer o país, o nosso visto do Zimbabwe estava a acabar. Um último jantarinho de despedida com toda a gente – um belo grupinho: Catherine a americana, Amalid a libanesa, Mohamed e Ahmad do Egipto, Idir da Argélia, e Zouheir de Marrocos.Belos bifes e vinho tinto. E não nos deixaram pagar nada. Nada do jantar, nada do hotel nas cascatas, nada do gasóleo, nada de nada. Já com saudades daquela gente da gargalhada e tentar prometer voltar (era possível que geríssemos um restaurante marroquino em que o Idir queria investir), mas também com saudades de Moçambique, e de certa maneira de África, lá partímos, horas e horas de viagem: de regresso aos transportes públicos. De esticão nesse mesmo dia lá chegámos à Beira, a segunda cidade do país.

Bem destruída. Mas com um centro amoroso que merecia bem ser arranjado. Casinhas baixas de telheiros avançados. Parece cidade portuguesa de pescadores. Tínhamos muito tempo na cidade. A mãe acabara de sair de portugal, ainda havia muita viagem e muita hora, especialmente muitos quilómetros pela frente. Conhecemos o Sr. Do Sporting, ferranho e sofredor, passámos pelo Grande Hotel, ocupado por centenas de famílias, um grande condomínio onde as árvores e as fendas cresciam juntas pelas paredes dos não-sei-quantos andares. E foi aí, no dia em que íamos à internet, que o cabo rebentou. Não haviam bancos que funcionassem, as bichas eram enormes nos únicos multibancos que davam (falo de horas de espera), telefones poucos telefonavam, serviços, poucos ou nenhuns. Deste lado do mundo depressa se cai no caos, mas também por isso é fácil lidar. Espera-se, não se desespera. Imagine-se se fosse na Europa...

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