terça-feira, 25 de maio de 2010

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Manica - arte e ouro

Manica, Manica!! Gostámos tanto!

O plano era Tete, mas com tantos dias de visto não valia a pena ir a correr. Fomos antes para Manica, para tentar ver as pinturas rupestres de Chinhamapere.
Ficámos no complexo Edgar, que era simpático, limpo e baratinho mas que tinha um senão. Música, aos gritos, de manhã à noite, com a madrugada pelo meio. Pior que a música era o Dvd, sempre sempre o mesmo, aos altos berros, do “Show de Talentos”. E lá vinha o "Castiiigo Muchanga", contar as suas piadas. Horas a fio.

Mas tirando isso adorámos. Manica é nas montanhas da nascente Vumba, a água que se vende aqui. Íamos à fonte, tal como o pessoal daqui, buscar a água engarrafada de graça. Entenda-se. É a mesma, a garrafa é que era nossa. E passeios nas montanhas. Mais estreias de pássaros.

Depois fomos às pinturas, ou à procura delas. Como bons preguiçosos e pouco espertos que somos conseguimos sempre acordar tarde e fazer as caminhadas no pico do calor. Lá descobrimos a Dona Verónica, ao pé do Liceu de Chinhamapere, que nos ía levar ao monte. Importa dizer que levámos um bigode da senhora de 70 anos a subir por ali acima. Era uma verdadeira cabrita do mato. Na subida não podíamos “fotar”, mas depois de oferecido dinheiro e rezas aos antepassados já podíamos tirar quantas fotografias quisessemos. Ela, especialmente, adorava ser fotografada. As pinturas são de aproximadamente 25 000 anos antes de Cristo. Seriam uma parede inteira. Resta um pedaço, que devido à inclinação da rocha não apanha chuva nem escorrências dela. Um parte foi estranhamente apagada por pessoas (isto foi o que conseguimos entender, a senhora Verónica falava pelos cotovelos mas sempre em dialecto, não percebíamos um cú) que cuspiam água nas pinturas. Assim que são os guerreiros do topo que melhor se vêem e se encontram lindamente preservados.

Soubemos, quando estávamos a ver o jogo do Benfas (saudades Tugolândia!) que havia ouro nas bases das montanhas da zona. Ficámos mais um dia para ir ver os garimpeiros a lavar quilos de argila no rio à procura das pequenas partículas, bem pesadas e brilhantes, que alimentavam centenas, tanto moçambicanos como emigrantes de toda a África. Depois de escavar uma mina (de 10, 12, 14 metros) no chão, leva-se a terra dela tirada até ao rio. Ali, outros, lavam, lavam, lavam, com um filtro por baixo dum tabuleiro de ferro e com esperança no que a sorte lhes possa reservar para esse dia. Depois há crianças. E mulheres que cozinham para aquela gente toda – são centenas e centenas de pessoas numa terra argilosa, uma pequena cidade ali; e pessoal com balanças e maços de notas a comprar migalhas brilhantes.
A cidade pára quando chegam ali turistas. Gente branca, que não quer comprar. Só quer ver? Encantados com as fotografias, a fazer poses, a dar gargalhadas. Vida tão dura, gente tão boa.
A seguir lá partimos para Tete. Mais uma boleia de camião, na estrada mais bonita que fizemos neste país. Estamos agora no Far Far West, terra dos embondeiros, terra do pó. Essas notícias e fotografias já ficarão para uma próxima.

Manica








Manica










terça-feira, 18 de maio de 2010

O belo passeio com a mãe

Entretanto a mãe chegou! Abraços abraços, saudades saudades! Fez-se o plano de viagem e depois foi o filme para alugar um carro. Escolhemos a opção do Sr. Júlio, uma espécie de candonga que acabava por sair muito mais barato. Lá fomos, no nosso Isuzu Bighorn.

O plano era ir até à cidade de Quelimane e ir à Gorongosa só na volta, visto que o parque ainda estava fechado por causa das chuvas tardias. Primeiro fizémos a estrada que circula o parque por fora para ver as vistas e procurar passarada. Dormimos numa pensão terrível, na vila da Gorongosa. De manhã vimos uma cena impressionante que vale a pena contar. Realmente esta África é selvagem e há coisas que não dá mesmo para controlar. Uma dessas é um enxame de abelhas em fúria.
Descansadinhos da nossa vida, a tomar o pequeno almoço numa esplanada, vemos uma miúda a correr, a fugir, não sabíamos de quê, com o bebé que tinha às costas quase a escorregar dali para o chão. Atrás dela um senhor a correr, a tentar ajudar, especialmente o bebé. Com ele é que percebemos o que se passava já que enxotava as abelhas que tinha de roda da cabeça. Era um enxame que andava por ali. Nós, na inocência, a ver aquela cena, nem nos apercebíamos da gravidade. Até que o senhor do café disse para entrarmos, que era mais seguro. Seguro? Ya. Elas andavam a atacar quam passasse, quem se mexesse. Víamos pelos vidros do café as pessoas a correrem, a fugirem, havia um homem que estava no chão, a tentar estar quieto, mas a ser picado. Perguntámos. “Talvez seja um enxame que está a mudar de sítio, não há problema de maior”. Voltámos para o nosso matabicho mas numa questão de dez minutos já estavamos dentro outra vez. Havia um enxame na casa ao lado que se assustou ou foi assustado. Talvez um miúdo com uma fisga. Talvez aquela menina tivesse passado perto demais. A coisa desencadeada era enorme. Montes de pessoas atacadas. Mas tarde a miúda voltou a aparecer. Estava crivada de babas enormes. Tentei ir atrás dela como creme das picadas de insecto mas ela estava tão assustada, coitadinha, chorava e estava envergonhada, ainda meio em pânico, que foi embora sem dizer a ninguém.

Mais tarde fomos até ao delta do Zambeze. Pensávamos passar a tal estrada da Gorongosa e depois apanhar uma outra de terra que nos levasse ao delta e dali para Quelimane. Quilómetros e quilómetros de matope (lama) para chegarmos a um beco sem saída – Luabo. Daqui para a frente só de barco. E o carro tem que ficar aqui! As opções eram ou voltar tudo para trás nessa noite ou apanhar o barco no dia a seguir e chegar mesmo mesmo ao fim do delta, a uma cidadezinha chamada Chinde. Depois logo tentar outros caminhos. Seria uma viagem de quatro horas , o barco partiria às 7 horas. Ficámos na Casa da Companhia, que pertencia à Companhia Sena, cuja fábrica de açucar em Luabo estava completamente destruída pela guerra. O sítio foi abandonado mas algumas das casas foram recuperadas para tentar manter o património. A mãe ficou no quarto do governador, com não-sei-quantas janelas de pé direito bem alto e com vista para um jardim de coqueiros e árvores enormes tropicais. Só não havia água canalizada nem luz eléctrica. Nem outra opção. Lol. Os morcegos eram enormes e faziam um barulho assustador quando saíam dos buracos ou nos rasavam a cabeça.
E de manhã às 7 lá estavamos. Mas o barco só chegou às 11. E não foram 4 horas de viagem, foram 7. Ai ai, este Moçambique... Mas foi um passeio entre os melhores destes meses que cá passámos. Em tirando o barulho do motor que era uma batedeira em altos gritos.
Gente com fartura, sacas de farinha, sacas de cimento, a batedeira aos gritos. A mãe metida no meio desta confusão. Lol. Meio desconfiada mas encantada com o caminho. Até que começa uma carga de água daquelas. Daquelas que sao curtas mas poderosas. Começa toda a gente a mobilizar-se e a agarrar em plásticos enormes. Os que estão nas pontas e nos limites tem que agarrar bem os plásticos para todos estarmos protegidos. As bolsas de águas que se formam no meio tem que ser conduzidas pessoa a pessoa para fora do barco ou enchem de mais e caem em cima de uma vítima mais distraída... Neste caso, a mãe. LOL. Realmente aqui é o trabalhar-todos-juntos-pa-ver-se-nos-safamos. Mas nada. Isto tão rápido encharca, e tão rápido seca outra vez.
Águias pesqueiras, hipopótamos, pelicanos, cegonhas maradas, Ibis, paisagens lindas, gente impecável (como sempre). Encanta-me poder tirar fotografias e as pessoas adorarem. Todos querem ser fotografados e dão aquelas gargalhadas fáceis quando vêem as suas poses na máquina. Se ao princípio tinha problemas em sacar da máquina hoje sei que as pessoas adoram, que é mais que um espelho para elas, que muitas não tiraram fotografias sem ser uma vez para o BI.

E lá chegámos ao destino, já fim da tarde, e a planearmos voltar no dia a seguir. Que grandessíssimo filme. Nao conseguíamos imaginar mais 8 horas do mesmo (agora seriam mais porque era a subir, em vez de ser a descer o rio). Instalámo-nos noutra casa da companhia (esta era a número 1), visto Chinde ser a antiga cidade forte para a Sena Sugar. Era uma cidade amorosa, linda, de ruas largas mas velhas, com muitas casinhas tradicionais, feitas de matope e entulho (davam resultados lindos e a reciclagem era de louvar). Para comer é que não havia nada. Desde que a Sena Sugar perdera o poderio aqui toda a cidade estava abandonada. Era uma cidade numa ilha dum grande delta, sem barcos preparados para o mar (só havia comunicação via rio). Não chegavam turistas, não haviam estradas. Só se podia ir lá pelas tais 7 horas de barco (ou entao alugar um), mas para quê? Nao havia nada. Para nós havia muito. Pelicanos aos pontapés e uma cidade virgem, cheia de rio e de mar, de ria e de mangal...
Mas afinal não éramos os únicos turistas. Ou melhor, forasteiros. Conhecemos os malucos que tínhamos visto por duas vezes, numa canoa, a descer o rio. O François, da África do Sul, descendente dos Krugers, e o Warren, do Zimbabwe. Imaginem só isto. 72 dias de canoa, 7000 kms (já não sei exactamente, mas eram muitos). Vinham desde Angola, da nascente do Zambeze. Já tinham fugido de crocodilos que os queriam filar. A única opção para conseguir fugir era esperar que o crocodilo pusesse a cabeça debaixo de água e passasse para o modo de “barco a motor” e começar a remar, com toda a força, para o lado contrário. Quando o bicho levantava a cabeça estava na direcção errada. Uf. Malucos mesmo. Nunca na vida. Jantámos com eles e, no dia seguinte, depois de eles terem aberto uma garrafa de champanhe e fumado uns charutos mesmo no mar, apanhámos boleia no barco que eles tinham alugado e que nos deixaria em Luabo outra vez.
Mas que viagem de volta, outro filme. Amorosos, deram boleia. Mas a verdade é que não cabíamos. Éramos peso a mais. Só nos apercebemos disso quando já estavamos bem no meio do rio. Tivemos que parar para tirar água do barco com um hipopótamos a olhar para nós. Com os pés enterrados em lama mole mole que só apetecia vender para os Spas europeus a preço de ouro. Mas que dava medo ter os pés. E o combustível a acabar. E a ter que se encher o depósito a meio da viagem, com o barco desequilibrado e na máxima velocidade. Mas lá chegámos. Chegamos sempre. Comemos uma sanduíche deliciosa (fome fome fome) e partímos para tentar chegar a Quelimane ainda nesse dia.
Eh cidade de buracos! Mas linda. Nem vimos muito. Queríamos era chegar à praia de Zalala. No dia a seguir, depois de dormir na Pensão Ideal lá fomos. Era bem paradisíaca, larga e vazia, a praia. Mas a água era escura das águas cheias do Zambeze. Valeu-nos o passeio até ao barcos que chegavam do mar e pela aldeia fora. O melhor foram mesmo os camarões grelhados e o Frango à Zambeziana, com côco. Hmmmm.

O tempo do aluguer já escasseava e saltámos as águas quentes da nascente do monte Morrumbala. (Que pena). Direitos à Gorongosa, ainda passámos ao pôr-do-sol a tempo de ver o Monte a escurecer. Mas chegámos de noite e não nos deixaram entrar no Parque. Tivemos que andar uns pouco quilómetros para trás e ficámos nas tendas de uma família amorosa, exemplar, oriunda da África do Sul. Acabámos por nunca ficar a dormir no parque nem uma noite tal era o conforto e os belos pequenos-almoços ali. Sempre voltávamos ao fim do dia.
No parque fizémos dois safaris, descansámos na piscina e comemos bem.
A fauna do Gorongosa teve durante a guerra uma queda de 95% dos animais. Foram comidos pelos soldados que tínham ali o quartel, a base. Os elefantes foram mortos pelo dinheiro do marfim e , pela boa memória que têm, alguns deles são mais que traumatizados e podem avançar para atacar os jipes dos safaris. A recuperação, depois de sabermos destes dados, é impressionante. O parque, além de ser lindo, tem no meio uma planície que alaga nas chuvas e fica verdinha na época seca. Cheia, cheia de animais. Passarada, e antílopes de todos os tipos. Vimos impalas, bushbucks, waterbucks, gazelas e gazelinhas pequeninas, os oribis. Os facoceros são mais que as mães – os Pumbas, do Hakuna Matata, sabem? - lá andam eles, de rabo levantado para se verem uns aos outros no meio da vegetação. Também tartarugas de terra e lagartos varanos, os que comem os ovos dos crocodilos. Enormes. Crocodilos e hipopótamos alguns, mas só de olhinhos de fora. Elefantes e leões só os rastos.
Primeiro recuperam-se os herbívoros e os grandes herbívoros. Quando a população está estável começam-se a introduzir os predadores. A Gorongosa é um sítio lindo, aconselhável, mas que dentro de alguns anos, aí sim, será demais.

E lá voltámos para a Beira, a mãe ainda queria visitar o Kruger Park, na África do Sul, e o carro tinha que ser devolvido. Nós fartinhos da Beira, planeámos o nosso percurso e no dia seguinte partímos para Manica.
Ah, resta dizer uma coisa. Provavelmente conhecem a Humana, a quem se dá roupa usada para ser doada em África, ou para ser vendida na Europa para que o dinheiro reverta para este lado do mundo. Pois está na hora de não ter mais ilusões. A roupa é Vendida aqui, tal qual uma loja bem nice, com promoções e quê. Bah. Não dar mais nada àquela gente.

Beira - loja da Humana

Gorongosa







Gorongosa










Gorongosa













Gorongosa













Quelimane e Zalala













Quelimane e Zalala







Chinde







Chinde










De Luabo a Chinde - delta do Zambeze










De Luabo a Chinde - delta do Zambeze