segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A Ilha de Inhaca

Uff. Isto de cada de vez que aqui se vem é todo um mundo de coisas para partilhar... Desta vez, por problemas informáticos, vamos-nos ficar só pelo texto, usem portanto a imaginação e mais tarde venham verificar com a realidade =)

Já demos umas voltinhas fora de Maputo. A ilha de Inhaca fica a 40kms de Maputo e é bem paradisíaca, verde e com praias desertas (imaginem, isto tem praias tão lisinhas e transparentes que quando há assim uma praia "normal" - com ondas e rochas, tipo as nossas, mas de água azul cião - não há ninguém a não ser uns malucos à procura de lagostas e coisas assim). Tem uma grande extensão de mangal (um ecossistema maluco, cheio de raízes aéreas e caranguejos às cores) e recife de coral.

Para ir para lá apanha-se o Nyeleti, um barco grande, barata a viagem. O problema depois é conseguir dormir por lá sem se pagar uma fortuna, coisa em que somos, diga-se de passagem, bastante bons. Lá nos sentámos num cafézinho (tavamos meio lixados, eu tinha-me meio pegado com um homenzinho que nos queria fazer pagar entrada na ilha - não era barato e não estávamos a contar com isso, embora fosse para ajudar a Universidade de cá... Eu lá armei barraca e não pagámos. O Zé ficou meio coiso pela atitude mas até admitiu que soube bem não termos pago. Lá estavamos nós a beber um refresco à pála da vitória) e foi quando conhecemos o Martinho, que nos apresentou ao Felizardo, que Felizmente nos deixou montar a tenda lá no sua propriedade - o quartel! Ele estava para lá meio abandonado, a cumprir o serviço militar obrigatório (era do norte do país e estava bem no sul!, sempre tinha a mulher e os filhos pequenos...). Lá montámos a tenda mas apareceram os seus amigos da polícia marítima a dizer que não podia ser, que as pessoas comentavam... (E comentavam bem, mesmo escondidos, toda a aldeia sabia que estávamos lá...) Lá veio o querido Felizardo e arranjou-nos um quartinho, que não era aberto há anos, onde haviam duas camas e uma porta que só encaixava no sítio, já que as dobradiças estavam soltas.
Acho que nunca me tinha sentido tão pequena diante da natureza (bem sei que não sou a pessoa mais corajosa do mundo, mas porra, bicheza com fartura). Marias-café com um palmo e a grossura de um dedo, barulhos e barulhos, aves, insectos, etc, ratos a andar nas linhas de electricidade e de estender a roupa, mosquitos ou libelinhas ou sei lá o que era aquilo: bem grandes e coloridas, a rasar-nos a cabeça, desorientadas com a lâmpada fora do quarto, a única por perto. Eu cá tinha medo de dar um passo em frente, mas entrar dentro do quarto assim sozinha também não... (Isto quando o Zé foi à casa-de-banho: meio-do-mato, entenda-se...). Nem para fora nem para dentro. Pfff...
O pior foi acordar a meio da noite com vontade de fazer xixi! Que injustiça! Que nada a propósito!! Choraminguei-me toda e o Zé lá acordou para vir comigo. E o que é que está no chão do quarto, descansadinho, a dormir? Um escorpião! Haviam montes deles por ali e talvez aquele quartinho antes abandonado fosse o refúgio de todas as noites... Sim, porque no dia seguinte tínhamos dois, e na rua haviam com fartura, à noite, no chão. Isto das Áfricas, os bichos é que estragam tudo... Há que habituar, eu ainda não consegui...

Mas ai, a praia! (o sol escalda hã, mesmo a sério, nem a brincar. 10 minutos são suficientes para se ficar esturricadinho. Mesmo com cremes, há que estar à sombra ou debaixo de capulanas!)
Ai, a caminhada - de 14km - ao farol! Em que tivemos a melhor sorte... Choveu! Choveu chuva quente, protegeu-nos do sol, aplanou a areia, refrescou tanto!
E as pessoas? Sempre nices demais! Há que referir aqui o Malaquias, que tinha 14 anos, era irmão do Bombeiro e jogava snooker a valer!! No dia a seguir pedimos-lhe para nos descobrir alguém que fizesse um preço bacano para irmos aos corais. São bastante perto da praia mas há que saber onde são. Ir a nadar até lá é aventura, e eu com este medo dos bichos, é o vais...

Então essa voltinha de barco foi o nosso luxo lá pela Inhaca. (que não foi luxo nenhum, era bastante perto...) Mas o Zé tinha que ir aos corais estrear os óculos de mergulho! Lá fomos e que maravilha!! (eu confesso que vi mais do barco do que dentro de água. Uma pessoa fica pequenina diante de tanta natureza!!) Mas o Zé delirava... Com o rabo à tona e um tubinho de fora (o de respirar!) lá andava ele a passear por ali! Diz que viu peixes-balão de todas as cores, aquelas ostras, conchas gigantes, azuis por dentro, que com a sombra se fecham, entre outros mil, de todas, todas as cores, em 10 minutos, umas 100 espécies. (eu fui um bocadinho, mas não sei usar o tubo, e aqueles corais ficam a 50cms do corpo e dão medo!! Não era só eu que dizia! O malaquias também tinha medo e o homem do barco tava habituado a levar turistas mas também não ía à água.)

Acabamos por fazer negócio com este pescador e pagando menos do que com o nyeleti, lá voltámos nós para Maputo no barco à vela dele.
Bem... Aí é que foi.

Estamos a falar de passageiros dentro do porão, onde a única abertura de 70x70cm era a entrada, que deixava entrar alguma luz e muita água das ondas que envolviam o barquinho.
Palavra de honra que pensei na morte!! Estava um dia lindo, mas, quando decidimos ir de barco à vela põe-se um temporal que vai lá, vai... Eu já queria desistir! Mas o Zé quer ter histórias para contar. =) Quando demos por ela, nem para a frente nem para trás, estamos no barco, em cima de bancos de areia, ondas enormes, ele parece que vira e a vela está engatada, enrolada e mal atada! É que a sério! O medo de andar de avião, quando lhe dá as turbulências, é mais ou menos isto. Mas os pilotos estudam uma porrada de anos e têm mais outra porrada de horas de voo. Isto não. Uma trapalhice pegada!!
Um miúda nova, com um bebé de um mês, começa a entrar em pânico. Eu só não entrei porque tinha que a acalmar! Depois fala-se em Changana (o dialecto aqui do sul de Moçambique) o que faz que só percebamos o tom de voz, nada de palavras... Um caos.

Mas os marinheiros na Boa, isto é mesmo assim... Realmente passado um bocado estamos já no mar mesmo, as ondas era grandes mas estava tudo controlado. Valia mais vir sentado cá fora, a levar baldes e baldes de água saldada do que estar lá em baixo, onde não havia noção de nada, só se balançava e já cheirava a vómito. Grande número. Mas lá chegámos, não sem antes se partir a vela (vá lá que foi mesmo no fim). Maputo, olá! Finalmente!!! É lindo o cais dos marinheiros. As cores dos barcos e a estrutura das velas são curiosas: vistas de terra! É bom para ir lá comprar peixinho ao fim do dia. Por mais 10 meticais arranjam logo o peixe ali, é só ir para casa e pô-lo a grelhar - como me fez o Zé no dia dos namorados, tão boa surpresa... Camarão grelhado, dourada e feijão verde daqui (redondinho e bem bom...).

Isto já foi há muito tempo, esta viagem a Inhaca! Ainda falta falar de tanta coisa! Mas o tempo na net está a chegar ao fim e são horas de almoço***********

Saudades!